Em-presas

Alexandre Oliva

Publicado na vigésima-segunda edição, de janeiro de 2011, da Revista Espírito Livre.

Adorei um minúsculo mas grandioso artigo que Richard Stallman publicou outro dia sobre as Vantagens (Práticas) do Software Livre. Reproduzo a seguir minha tradução do artigo, na íntegra:

Gente de fora do Movimento Software Livre frequentemente pergunta sobre as vantagens práticas do Software Livre. É uma pergunta curiosa.

Software não-Livre é ruim porque lhe nega liberdade. Então, perguntar sobre as vantagens práticas do Software Livre é como perguntar sobre as vantagens práticas de não estar algemado. De fato, há vantagens:

  • Você pode usar uma camisa normal.
  • Você pode passar por detectores de metal sem acioná-los.
  • Você pode manter uma mão no volante enquanto troca de marcha.
  • Você pode atirar uma bola de baseball.
  • Você pode carregar uma mochila.

Poderíamos encontrar mais, mas você precisa dessas vantagens para se convencer a rejeitar as algemas? Provavelmente não, porque você entende que é sua liberdade que está em jogo.

Quando você entender que isso é o que está em jogo com Software não-Livre, você não precisará perguntar quais vantagens práticas o Software Livre tem.

O mesmo se aplica a empresas. Como se não fosse suficientemente absurdo aceitar que outra (má?) companhia decida se o seu negócio pode ou não continuar operando, porque ela decide o que o software privativo faz, quando ele pode ser usado, quem pode ajudá-lo a resolver problemas e como ele armazena as informações, esse controle sobre sua em-presa, uma vez cedido, será seguramente abusado pelo fornecedor exclusivo do software, sempre que ele vir ali uma oportunidade de obter maiores lucros às suas custas.

Adotando Software Livre, sua companhia deixa a condição de em-presa, passando a ser parceira do fornecedor, que tende a se comportar decentemente justamente porque você não está aprisionado: é um livre mercado, mesmo depois de decidir utilizar um determinado programa.

Da mesma forma, respeitando seus clientes sem aprisioná-los, deixam a condição de em-presas adversárias e passam a ser seus parceiros.

Mesmo competidores, operando sobre uma base comum de código, tenderão a receber de todos os outros mais do que contribuem individualmente.

Procure descobrir se seu empreendimento se tornou dependente do software privativo antes que o fornecedor exclusivo tenha plena consciência disso e use esse poder para decidir quanto vai deixar para você do fruto do seu próprio trabalho. Perceba o valor da liberdade para sua empresa, no curto e no longo prazo, mas não esqueça de tratar seus parceiros clientes como gostaria de ser tratado por seus parceiros fornecedores. Respeito é bom, e todos gostam.

Atualização 2011-02-04

Aceitei a sugestão (intencional ou não) da Revista e mudei o título de “Em-presa” para “Em-presas”. O plural parece que transmite melhor não só a noção de aprisionamento e captura por predador, mas também estende o significado do título a “entre garras e dentes” (meio que citando sem querer um grande sucesso pop-sertanejo do final do milênio passado). A URL continua a mesma, mas o plural também funciona.


Copyright 2011 Alexandre Oliva

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