Saiu a edição 33 da [GNU/]LinuxMagazine no Brasil, com o artigo que escrevi para eles, versão mais compacta do já publicado aqui.

Infelizmente, houve alguns escorregões editoriais :-(

Uma primeira surpresa pra mim foi o logo da Free Software Foundation na primeira página do artigo. Fiquei preocupado que talvez não houvesse ficado claro que não sou ligado à FSF, mas sim à organização independente FSFLA, irmã latino-americana da FSF original. Depois entendi que o logo fazia sentido, já que a GPLv3, tema do artigo, é obra da FSF.

Lendo o texto, tive três surpresas desagradáveis. Onde escrevi, logo depois das 4 liberdades, (grifos adicionados denotam os pontos modificados):

A GPL foi a primeira licença copyleft, que usa direito autoral não só para conceder permissões, mas também para garantir que o programa permaneça livre, como explica seu preâmbulo.

Saiu:

A GPL foi a primeira licença copyleft a usar direito autoral não só para conceder permissões, mas também para garantir que o programa permaneça livre, como explica seu preâmbulo.

O que era uma oração subordinada adjetiva explicativa virou restritiva, dando a impressão de que eu não tenho idéia de que significa copyleft. Usar direito autoral para garantir que o programa permaneça livre é a idéia de copyleft, e a GPL foi a primeira licença copyleft de todas. Isso é o que diz o texto original, pelo menos para um leitor atento. No texto modificado, dá a impressão de que copyleft não foi uma inovação da GPL, que garantir que o programa permaneça livre é algo mais que copyleft, ao invés de ser seu significado. Ficou ruim :-(

Outra que me chamou a atenção foi no último parágrafo, onde escrevi:

Com a GPLv3, você tem ainda mais garantias de que nenhum dos desenvolvedores ou distribuidores do software vá impedi-lo de executar, modificar ou distribuir o software, enquanto você estiver disposto a também respeitar as liberdades dos demais usuários do software.

mas saiu:

Com a GPLv3, o usuário, programador ou empresário tem ainda mais garantias de que nenhum dos desenvolvedores ou distribuidores do software vá impedi-lo de executar, modificar ou distribuir o software, enquanto os primeiros estiverem dispostos a também respeitar as liberdades dos demais usuários do software.

Problema nenhum em evitar o uso de "você", ainda que, se me houvessem perguntado, eu provavelmente sugeriria "o licenciado". O problema foi a segunda substituição, que fez com que sua leitura mais natural seja uma referência a desenvolvedores (em "desenvolvedores ou distribuidores"), não a "usuário, programador ou empresário", o que dá a terrível impressão de que esses desenvolvedores possam mudar de idéia e decidir não mais respeitar as liberdades dos demais usuários do software. Não podem. A permissão não é revogável, mas a modificação fez parecer que é.

Logo antes disso, no final do penúltimo parágrafo, uma sentença que não reconheci:

Ou seja, pode-se simplesmente usar os binários de qualquer programa sob essa licença, sem alterar seu código-fonte.

Ainda que seja verdade que a liberdade de executar o software para qualquer propósito seja talvez a mais fundamental de todas, respeitada incondicionalmente pela GPL mesmo sem sua aceitação, até porque na legislação de direito autoral ou de software da maioria dos países não é necessária permissão do titular de direito de autor para executar software (o Brasil é exceção), o fato de que alguém possa, sim, executar o software sem respeitar as liberdades dos outros não é algo que eu gostaria de ressaltar praticamente no fecho de um artigo que trata da uma licença cujo propósito principal é justamente defender essas liberdades. Não gostei...

Nada que não possa ser corrigido, pelo menos parcialmente, com uma errata na próxima edição, claro... E, mesmo que não seja, a URL do original foi publicada na revista, a partir do qual agora se pode chegar aqui.

Houve outras pequenas modificações não problemáticas. Se alguém tiver curiosidade, importei o texto publicado na revista na versão 2006 do repositório SVN, pra comparar com o original, restaurado na revisão 2007.

svn diff -r 2007:2006 \
<http://www.fsfla.org/svn/fsfla/site/blogs/lxo/pub/gplv3-novidades.pt>

Depois de tanto resmungar :-), posso ter deixado a impressão de que odiei que o artigo foi publicado. Não, de forma alguma, muito pelo contrário. Adorei a oportunidade, agradeço pelo convite e pelo interesse em divulgar a GPLv3. Aceitarei com alegria, dentro do possível, outros convites para escrever sobre temas que considero relevantes. Isso se ainda houver mais algum convite, depois disso tudo ;-)

Ah, sim! Que ninguém conclua, ao ver a licença de direito autoral que concedo na versão do artigo que publiquei dentro do espaço deste blog e conclua que a revista LM desrespeitou os termos de licenciamento. Eu ofereci uma licença alternativa à revista, que permitia, sim, a publicação da forma como foi feita. Infelizmente, porque eu atrasei a entrega da versão final, não houve tempo para uma revisão minha das pequenas modificações propostas pela revista, que claramente não tinham intenção de modificar o conteúdo. Ou seja, tudo culpa minha ;-)

Valeu, Pablo! Abraço,