[Prensa] [gpsl-unicamp] IRPF-Livre 2009: A batalha contra os Softwares Impostos continua

Luís Guilherme Fernandes Pereira lpereira en gmail.com
Vie Abr 17 14:59:06 UTC 2009


Bom, é por essas e outras que eu não engulo a FSF, mormente a FSFLA (e
sim, cc: para prensa en ... foi proposital ). Respondo no corpo.

2009/4/17 Alexandre Oliva <lxoliva en fsfla.org>:
> Está terminando o prazo para entregar declarações de Imposto de Renda
> à Receita Federal do Brasil este ano.  A RFB quer que você prepare a
> sua usando um cavalo de Tróia que ela criou e controla.  A FSFLA, mais
> uma vez, oferece uma solução: IRPF-Livre, versão 2009.
> http://www.fsfla.org/~lxoliva/fsfla/irpf-livre/2009/

De fato, o software da RFB é proprietário, daí a chamá-lo de cavalo de
tróia é exagero. O pior não é o software da Receita, o pior é o que
ela faz com nossos dados. Isso não sabemos. Eles cedem nossos dados
para spam? Não sabemos. Divulgam nossos bens a terceiros? Usam nossos
dados (inclusive os políticos a quem doamos dinheiro) para chantagens
futuras?

O maior problema é a existência de um imposto em que temos que
devassar nossa vida ao governo, a um bando de burocratas que não
sabemos quem são. Usar um software que não sabemos o código é a
azeitona da empada, é a latinha de cerveja depois do porre de cachaça.
O software ser livre não vai mudar o que a RFB vai fazer com os nossos
dados quando estiverem em seu controle. Só nos garante que só terão os
dados que informarmos.

Cortei os parágrafos seguintes porque estão irretocáveis, não há o que
se comentar deles.

> Mais uma vez, para resguardar os direitos dos cidadãos à liberdade, à
> segurança e à privacidade, fez-se necessário recorrer a engenharia
> reversa, para descobrir alterações aos formatos de arquivos não
> documentadas na especificação publicada pela RFB, de modo a atualizar
> o programa IRPF-Livre, que disponibilizamos pela primeira vez em 2007.
> http://www.fsfla.org/texto/denuncia-irpf

Desculpe. Eu baixei o programa e tentei usá-lo. E a experiência foi
pior do que se eu fizesse naqueles antigos formulários azuis (ou
verdes, para a declaração simplificada). E veja, eu sou um entusiasta
da linha de comando. Uso mutt, links, nano, o terminal copiosamente.
Para oferecer um software desse, desculpe a sinceridade, é melhor
sugerir que façamos a declaração no papel. Peçam ajuda para
desenvolver um software usável, divulguem a alternativa livre -- acho
excelente! Mas não divulguem como se fosse um software que qualquer um
possa utilizar para declarar e entregar o IRPF.

Não adianta, sem uma qualidade mínima, ninguém adota softwares livres.
Hoje o Ubuntu -- para quem a FSF torce o nariz -- se tornou um
verdadeiro player no mercado de sistemas operacionais domésticos. E
sempre tentam tornar o sistema cada vez mais livre. Sempre que podem,
substituem drivers proprietários por livres, aplicativos proprietários
por outros livres. Mas a experiência de usuário vem em primeiro lugar.
Se a alternativa livre não tem uma usabilidade e uma estabilidade
mínimas, não dá para colocar na distribuição. Falo mais disso no
próximo comentário.

> Aproveite o feriado que vem aí para se livrar não só da obrigação de
> entregar a declaração, mas também num sentido mais amplo!  Prepare sua
> declaração utilizando somente Software Livre: o IRPF-Livre 2009,
> máquinas virtuais Java Livres tais como GNU Interpreter for Java e
> IcedTea, o sistema operacional GNU, e um núcleo Livre, como o
> Linux-libre.  E depois, mesmo quando o IRPF-Livre não mais seja
> necessário, continue usando os demais: Sê Livre!
> http://www.fsfla.org/~lxoliva/fsfla/irpf-livre/2009/
> http://en.wikipedia.org/wiki/GNU_Interpreter_for_Java (em inglês)
> http://icedtea.classpath.org/wiki/Main_Page (em inglês)
> http://www.gnu.org/distros/ (em inglês)
> http://linux-libre.fsfla.org/ (em inglês)

Esse xiismo da FSF e principalmente da FSFLA que mata. Falava do
Ubuntu. Um grande sistema, embora não seja o de minha preferência, que
preza pela liberdade SIM, ao contrário do que dizem os seus
detratores. A FSF quer acreditar que o end-user vai usar um software
que não atinge suas expectativas só porque é livre. Isso é ilusão, não
vai. Para a disseminação do software livre, é necessário que os
softwares tenham grande qualidade. E, em geral, eles têm. Às vezes,
por estratégia, é necessário aceitar pedaços proprietários, como faz
hoje o Java da Sun. A Sun tem feito esforços em dirimir todos os
problemas de propriedade intelectual, mas ainda não conseguiu. Por
isso vou deixar de usar o Java da Sun?

Sim, eu deixaria, se alguma JVM livre (testei todas) abrisse o que eu
preciso. Não abrem. Da mesma forma o gnash trava meu computador. Fico
com o flash proprietário. Sou um demônio devorador de liberdades por
causa disso? Duvido. A liberdade de ter a minha vida em sigilo, que
vocês nem cogitaram, foi a minha primeira preocupação a respeito do
imposto de renda, e não o detalhe de qual software vou utilizar para
entregá-lo.

Alguns projetos da FSF são risíveis.O gNewSense, por exemplo, que é um
Ubuntu defasado e sem os códigos proprietários. Ou seja, os programas
proprietários que o Ubuntu mantém na distribuição por questão de
usabilidade e estabilidade são trocados por softwares livres que vão
causar uma péssima experiência de usuário. Ele vai falar "Linux não
presta" e nunca mais tentar um sistema livre.

Ou então o Linux-libre, que é a piada das piadas. Parece retaliação
pelo fato do Linus não gostar da GPLv3 (e retaliação essa que não dará
certo). O Linux é software livre e sempre foi. Ele tem as 4 liberdades
fundamentais. Sim, você pode plugar módulos proprietários nele, mas
você faz isso se você quiser. Colaborar com o sistema é melhor que
ficar criando forks por picuinhas (é diferente, por exemplo do fork
XFree86 x X.Org, que era realmente necessário). Essa postura de
cizânea da FSF, de "clubinho dos verdadeiramente livres", de "Só GNU é
deus e Stallman seu único profeta" só causa atraso na propagação do
software livre e de outras liberdades ainda mais importantes no mundo.

Abraços,

-- 
Ing. Luís Guilherme Fernandes Pereira
http://www.luisguilherme.net

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