No momento, estou em duas discussões tentando mostrar às pessoas que chamar a combinação do sistema operacional GNU com o núcleo Linux de Linux é moralmente errado, mesmo não havendo qualquer impedimento jurídico para isso.

Há vários textos no site do próprio projeto GNU sobre isso:

Eu afirmo que se referir a GNU+Linux como Linux é ou ignorância ou má fé.

Numa das discussões, na lista do Software Libre Venezuela, alguém achou engraçado eu afirmar que o GNU era maior que o Linux. Num caso desses, nada melhor que mostrar números (da árvore development de ontem do Fedora):

 39283506 gcc-4.1.2-12.src.rpm
 37911223 emacs-22.0.95-1.fc7.src.rpm
 15861929 glibc-2.6-1.src.rpm
 14745476 gdb-6.6-8.fc7.src.rpm
 12807525 binutils-2.17.50.0.12-4.src.rpm
    5482705 coreutils-6.9-2.fc7.src.rpm
    4785153 bash-3.2-9.fc7.src.rpm
    2946233 libtool-1.5.22-11.fc7.src.rpm
    1785466 gawk-3.1.5-15.fc7.src.rpm
    1116290 findutils-4.2.29-2.src.rpm
    1058365 autoconf-2.61-8.fc7.src.rpm
     910947 automake-1.10-5.src.rpm
     874105 sed-4.1.5-7.fc7.src.rpm
139568923 **parcial** sistema operacional GNU
 46845975 kernel-2.6.21-1.3163.fc7.src.rpm

Já na PSL-Brasil, usei um recurso extremo contra o argumento de que cada um é livre para escolher como chamar: fiz insinuações ofensivas sobre o nome do interlocutor e acabei atingindo a mãe dele também. Ele (naturalmente) ficou ofendido. Deu certo! Respondi:

Pois é... Os moderadores entraram em contato comigo e apontaram que eu peguei pesado, então devo começar com um grande pedido de desculpas.

Eu faltei com respeito a você, e o pior é que fiz isso de propósito, e ofendi sua mãe, ainda que sem querer, pois não sabia da origem da inicial B.

Não tinha o direito de fazer isso. Peço a compreensão de vocês por esse desvio de comportamento, que vou tentar justificar abaixo.

Fica evidente que a liberdade de escolher como chamar os outros não é absoluta. Ela vai só até onde quem está sendo chamado pelo nome escolhido, ou outros que têm afeto por ele, julgam respeitoso e não ofensivo.

Clamar pela liberdade de escolher os nomes quaisquer para qualquer coisa, sem levar em conta o que outros possam considerar ofensivo ou desrespeitoso, especialmente os mais próximos da pessoa ou objeto referido não é moralmente correto, como acabamos de perceber.

Quem faz isso passa dos limites, como eu passei. E sabia que estava passando. Fiz isso pra mostrar que é fácil argumentar que pimenta no olho dos outros é colírio, mas quando cai no seu e arde, aí é ruim.

Agora peço que entendam que GNU é o filho que RMS nunca teve. GNU foi criado com os propósitos de oferecer às pessoas a possibilidade de usar computadores em liberdade e de educá-las no sentido de evitarem ter essa liberdade cerceada.

Quando Linux surgiu e completou o sistema operacional GNU, cumpriu o primeiro objetivo. Só que, à medida em que a combinação do sistema operacional GNU com o núcleo Linux passou a ser conhecida pelo nome Linux, isso dificultou, e muito, o cumprimento do segundo objetivo.

Isso porque Linux não compartilha a filosofia, a firmeza moral do GNU. Compare "Free as in Freedom" com "Just for fun".

À medida em que se deixa de chamar atenção para o nome GNU, e se dá a impressão de que foi o Linus que deu início a tudo isso (conseqüência de chamar o todo de Linux), prevalece a ideologia do "eu não tenho ideologia", do "Just for fun", ao invés de "freedom for the people".

Assim, mais e mais gente vem a usar o software do projeto GNU sem saber de onde ele vem ou por quê, e a promover uma ideologia contrária à do Software Livre: a do liberalismo, ao invés da liberdade. Aí ocorrem situações irônicas como a retratada no filme Revolution OS:

Richard M. Stallman: So, very ironic things have happened, but nothing to match this. Giving the Linus Torvalds Award to the Free Software Foundation is sort of like giving the Han Solo Award to the rebel fleet.

Não importa quantas pessoas chamem uma criança por um apelido ofensivo. Se ela ou outros que a querem bem se sentem desconfortáveis com isso, você, assim que ficar sabendo desse desconforto, tem obrigação moral de não fazer parte do bando de linchamento verbal.

GNU é filho de RMS. RMS pede que seu filho seja chamado pelo nome que ele escolheu, não por outro. Linux não é filho de RMS. Linux é filho de Linus. Os dois juntos vão longe. Mas chamar a dupla pelo nome de um deles é como chamar a dupla dinâmica de Robin.

Se você concorda comigo e com Carlos que eu o ofendi e desrespeitei, assim como à sua mãe, ao zoar com os nomes deles, e que não tinha o direito de fazer isso, seja coerente e não chame GNU+Linux só de Linux. O pai do GNU acha isso desrespeitoso e ofensivo. Quando não é ignorância (que pode ser em vários níveis), é má-fé, sim.

Espero que tenha dado pra entender a razão de meu excesso intencional e agradeço aos moderadores pelo toque e pela oportunidade de retratação.

Vale pra você também!